O risco iminente da chegada da gripe aviária em granjas comerciais do Oeste do Paraná e os inevitáveis impactos econômicos negativos dessa situação estiveram no centro dos debates do encontro promovido pela Câmara de Sanidade Agropecuária do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD) ocorrido na manhã desta terça-feira (12). O evento, no auditório do Edifício Luis Brandalize, foi prestigiado por representantes do poder público e do setor produtivo de toda a região.
Entre eles, o prefeito de Toledo e presidente da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop), Beto Lunitti; o vice-presidente do POD e diretor-presidente da Frimesa Cooperativa Central, Elias José Zydek; o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), Inácio Kroetz; o consultor de legislação sanitária da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Antônio Poloni; e o diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins. O presidente do Sindicato Rural Patronal de Marechal Cândido Rondon, Edio Chapla também marcou presença. “O Paraná, muito inspirado no que tem sido feito em nossa região, tornou-se uma referência para o Brasil em práticas de sanidade agropecuária. Contudo, num momento como este, devemos manter o alto grau de comprometimento que nos acompanhou até aqui para manter a situação em nossa região sob controle”, analisa o presidente da Câmara de Sanidade Agropecuária do POD, Paulo Vallini.
Antes das palestras de Antônio, Inácio e Otamir, o vice-presidente do POD e o presidente da Amop exaltaram a realização deste encontro. “É satisfatório ver tantas pessoas importantes nesta questão da sanidade agropecuária reunida para reforçar o seu compromisso com a economia regional, que tanto depende da avicultura. Tenho orgulho de fazer parte deste grupo e unidos vamos procurar saídas para este problema que se aproxima cada vez mais da nossa avicultura. Com base no diálogo e na ciência, conseguiremos minimizar os impactos da gripe aviária caso ela chegue às nossas granjas”, observa Elias. "Todos os municípios da área de Amop precisam se empenhar ainda mais pela sanidade agropecuária em seus territórios. Mais do que uma questão de preservar a nossa economia de solavancos, temos o dever de zelar pela segurança alimentar em nosso país e também com a humanidade, pois nosso país é um dos grandes celeiros do planeta", pondera.
Em sua fala, Antônio Poloni, que, entre outros cargos, já foi titular da Seab entre 1998 e 2002, durante o segundo mandato do governador Jaime Lerner, falou de suas experiências para implantar políticas de defesa agropecuária, as quais culminaram, em 2021, no status do Paraná de área livre da febre aftosa sem vacinação. “O Oeste nos fez ver a necessidade de se cuidar da sanidade no campo e provocou o Governo do Estado a implementar diversas medidas que hoje representam um diferencial para a nossa economia, sobretudo a voltada à exportação. Foi um esforço conjunto entre poder público, agroindústrias e produtores e estamos num momento em que esta relação tem que dar um salto e incluir entidades importantes como a Amop e o POD. No exterior, a chancela de entes públicos e privados com credibilidade à nossa produção faz toda a diferença na hora de vendê-la”, ressalta o consultor.
Avicultura
Por videoconferência, Inácio trouxe dados que demonstram a importância da avicultura para a economia paranaense, gerando 1,4 milhão de empregos diretos e indiretos em nosso estado, onde foram abatidas, em 2012, 2,12 bilhão de cabeças, a maioria delas produzidas nas regiões Oeste, Norte e Sudoeste – 43,62% deste total é exportado.
Há criação de frangos para corte em 312 municípios, mas 78% da produção concentra-se em 15 municípios, grupo do qual Toledo faz parte. O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) na área de abrangência da Amop é de R$ 43,611 bilhões, sendo que 29,07% deste valor advém da avicultura (R$ 12,677 bilhões).
A região Sul responde por 59,94% da produção brasileira de frangos, mas é responsável por 78,88% da exportação deste produto, a maior parte (33,46%) é abatida no Paraná e enviada para 141 países. “O agronegócio não pode mais ser visto como uma atividade estritamente rural, pois sua influência está presente nas áreas urbanas. Em razão disso, para garantir a manutenção de avanços conquistados com muito esforço, as nossas prioridades devem convergir com as dos prefeitos e vice-versa. Neste momento é preciso focar na proteção à avicultura comercial num cenário em que já há casos de gripe aviária em aves silvestres. Desde 2007 essa doença está à espreita e ela, infelizmente, veio para ficar. Portanto, todo cuidado é pouco”, alerta. “Também não há motivo para pânico, pois o mundo não pode prescindir da carne de frango brasileira. Se surgir algum caso numa granja comercial, nossos compradores no exterior vão criar restrições num primeiro momento. Outros países, onde a gripe aviária já chegou, não têm moral para nos criticar se o pior acontecer. Os Estados Unidos, por exemplo, registram milhares de casos desta doença e nem por isso deixou de exportar”, argumenta.
Após a fala do presidente do Sindiavipar, Inácio Kroetz, o prefeito o convidou para uma conversa com prefeitos e vereadores do Oeste do Paraná. "Dada a importância da avicultura para a economia da nossa região, é mais do que necessário avançarmos no sentido de fortalecer uma cultura de sanidade agropecuária nas propriedades, mas também das prefeituras, e isso só é possível por meio do convencimento institucional", observa.
Defesa agropecuária
A última palestra da manhã foi com o presidente da Adapar, que apresentou um panorama do trabalho realizado pela agência na questão das aves silvestres vítimas da gripe aviária encontradas mortas no Litoral do estado, focos que, segundo Otamir, foram neutralizados por meio de barreiras sanitárias e varreduras no entorno. Além disso, ele defendeu um protagonismo maior dos municípios na questão da sanidade agropecuária, pois o órgão conta com apenas 700 servidores que atuam em 135 escritórios espalhados por todo o Paraná. “A propriedade rural é a primeira barreira sanitária e todas elas devem ser vistas com uma indústria, que precisa ser protegida de ameaças como esta que ronda o nosso estado. Se cada município do Paraná contratar dois colaboradores para nos ajudar nesta missão, dobraríamos o nosso efetivo e atenderíamos melhor, por exemplo as 20 mil granjas que existem em nosso estado, as quais mandam sua produção para 37 frigoríficos que abatem 150 milhões de aves por mês”, observa.
Em seguida, nas considerações finais, o presidente da Amop disse que há, por parte dos prefeitos, boa vontade em relação à sanidade agropecuária, mas recordou as dificuldades que estes gestores têm enfrentado. “A maioria dos gabinetes dos 58 prefeitos associados são verdadeiros batalhões do Corpo de Bombeiros, porque a todo o momento incêndios precisam ser apagados e a maioria deles, nos últimos tempos, tem a ver com a queda de arrecadação. Meu compromisso com o POD é traçar, junto com meus colegas prefeitos, uma estratégia para impedir que episódios, como casos de influenza aviária, ocorra nas nossas granjas e coloquem as nossas exportações em xeque. Vivemos um novo momento e, em tempos de mudança, precisamos ousar e assumir protagonismos", salienta Beto Lunitti.
O encerramento ficou por conta do vice-presidente do POD, que fez uma avaliação positiva do evento. “Por tudo que aconteceu nesta reunião, saio daqui motivado, pois percebi que há um esforço conjunto entre poder público e setor produtivo para lidarmos melhor com este problema que, por enquanto, é só uma preocupação. Se o pior acontecer, precisamos caminhar juntos para direcionar nosso foco e mitigar danos”, avalia.
Fonte: Toledo News
Foto: Divulgação