Estado foi o que mais participou do levantamento dos custos de produção. Resultados revelam um alerta para produtores de diferentes culturas
Desde 26 de agosto, o produtor rural do Paraná tem em mãos dados que fornecem um diagnóstico preciso de 12 atividades agropecuárias desenvolvidas no Estado. Os painéis de levantamento dos custos de produção do projeto Campo Futuro, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), realizado em parceria com o Sistema FAEP, trazem um diagnóstico do setor. Os resultados foram apresentados em Curitiba, com a participação de mais de 160 agricultores, pecuaristas e presidentes de sindicatos rurais de todas as regiões do Estado. Posteriormente, os painéis também serão divulgados em outras quatro regiões do país.
Só no Paraná, os levantamentos de custos foram realizados em 16 municípios. Os dados serão utilizados, essencialmente, em duas frentes: por um lado, servem de base para os produtores rurais otimizarem a gestão de seu negócio; em outra via, os números também vão subsidiar ações do Sistema FAEP, visando o desenvolvimento das cadeias produtivas do Estado. Com isso, além de os agricultores e pecuaristas terem a possibilidade de conquistar melhores resultados individuais, o Sistema FAEP também pode puxar a frente no atendimento de demandas coletivas do setor agropecuário junto ao poder público.
“Conhecer os custos de produção é a base de qualquer atividade. Somente assim conseguimos perceber se temos lucro, se a atividade é rentável e como está o comportamento financeiro histórico. Além disso, essas informações vão auxiliar o Sistema FAEP na busca de políticas públicas que atendam ao produtor rural”, apontou o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.
A assessora técnica da CNA, Larissa Mouro, destacou a adesão em massa de produtores paranaenses ao projeto Campo Futuro. O Paraná foi o Estado em que mais agricultores e pecuaristas participaram e que teve mais atividades agropecuárias analisadas. Da mesma forma em relação ao que ocorre em âmbito estadual, o levantamento também deve nortear estratégias de atuação da CNA em nível nacional.
“Nada melhor do que começar a divulgação pelo Paraná, que teve o maior número de levantamentos. Tivemos 155 painéis em todo o país e 25% deles foram [realizados] no Estado. Foram os que a gente teve mais participação, mais qualidade e com dados mais fidedignos”, disse Larissa.
Grãos
Não só os dados do Campo Futuro, mas também a palestra de conjuntura, com a fundadora da consultoria AgriFatto, Lygia Pimentel, revela um cenário de desafios para os produtores rurais. No caso da soja, a perspectiva é de que a produção global aumente para 403 milhões de toneladas em 2024. Entretanto o consumo não acompanhou esse movimento e permanece estacionado. Um país que vive esse reflexo é a China, principal importador mundial, que tende a desacelerar suas compras externas.
“Tudo isso traz consigo uma pressão nos preços no nível global. Depois de anos de muita atratividade, temos um novo desafio”, apontou Lygia. “No Brasil, temos projeção de recorde de produção e de exportação. Mas os estoques finais bem maiores devem aplacar os preços”, projetou.
Além dessa conjuntura adversa, o Campo Futuro revelou uma safra difícil para o produtor de soja. Em nenhuma das quatro praças aferidas no Paraná (Londrina, Tibagi, Cascavel e Guarapuava), a renda bruta foi superior ao custo total, o que significa que o produtor pode ter dificuldade de se manter na atividade caso esse resultado persista no longo prazo. Município do Paraná em que as despesas mais apertaram, em Guarapuava os custos de produção equivaleram a 48,7 sacas por hectare.
Como se não bastassem os altos custos, o produtor enfrentou problemas climáticos extremos. Além disso, o preço médio da soja recuou 24,7 pontos percentuais. Em resumo, foi um período difícil para o produtor.
“Como commodity, a soja tem preço definido de fora para dentro. No Paraná, não é diferente”, observou o pesquisador Mauro Osaki, do Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Cepea). “Tivemos uma safra bem adversa, com condições extremas. Houve estiagem, chuva em excesso e chuva no período de colheita. Tudo isso afetou a produtividade”, complementou.
No caso do milho, a conjuntura internacional transita de forma mais estável, com a produção girando em torno de 1,2 bilhão de toneladas. Esse cenário mais previsível é positivo para a atividade, na avaliação de Lygia Pimentel. “Devemos ter um mercado mais tranquilo e previsível em termos de preço, com saca acima dos R$ 60, no ano que vem”, disse.
Além disso, a especialista apontou que Estados Unidos e Argentina devem reduzir suas áreas destinadas ao grão, o que pode provocar a expansão do cultivo de milho no Brasil. Um fator positivo é que os preços dos fertilizantes devem recuar.
O panorama serve de alento a uma safra péssima não só para o milho, mas também para o trigo. Afetada por aspectos agronômicos – de condições climáticas a pragas, como a cigarrinha –, o produtor de milho enfrentou perdas significativas. Tanto no caso do milho quanto no do trigo, a renda obtida não foi suficiente para cobrir os custos de produção.
“São atividades que não estão se pagando na ponta. No caso do milho, isso é preocupante porque não é a primeira vez. O milho de primeira safra deve entrar só para rotação de culturas. Isso é o que está se desenhando e pode ter impacto na cadeia de produção animal”, avaliou Osaki. “Foi um ano dramático”, resumiu.
Pecuárias
No caso da avicultura, a conjuntura internacional indica um cenário favorável. De forma generalizada, houve a redução dos custos de produção em relação a 2022, puxada principalmente pelo recuo dos preços dos grãos e de insumos nutricionais – que tinham sofrido uma disparada em anos anteriores. A produção nacional está relativamente estabilizada, com projeção de fechar 2024 em 6,4 bilhões de cabeças abatidas. As exportações devem ter um tímido aumento, chegando a 4,9 milhões de toneladas.
Para o produtor, no entanto, as condições não são tão positivas. Segundo o Campo Futuro, os avicultores paranaenses conseguiram cobrir o custo operacional efetivo, mas não o custo total. Com isso, os avicultores perdem a capacidade de fazer reinvestimentos na propriedade, o que acende um alerta para o longo prazo.
Na suinocultura, o alento aos produtores é a queda nos custos de produção que, na avaliação de Lygia Pimentel, tem potencial para voltar a estimular a atividade. A projeção é de o país fechar 2024 com o abate de 57,7 milhões de cabeças, com um aumento significativo nas exportações.
“Temos um cenário mais ajustado, um pouco mais equilibrado, com possibilidade de maior reação, caso haja demanda internacional adicional”, apontou Lygia. Apesar disso, os painéis do Campo Futuro revelam que os suinocultores fecharam mais um ano no vermelho.
O cenário traz boas projeções para a bovinocultura de corte. Segundo Lygia Pimentel, o ciclo pecuário se encontra na fase de queda de produção de bezerros – após ter havido o recuo dos preços do boi gordo e o descarte de fêmeas.
“Com isso, a tendência para 2025/26 é de recuperação dos preços, com retenção de fêmeas e com o preço real do bezerro em alta”, estimou a especialista. Para ela, no entanto, não deve haver recomposição de preços ainda em 2024. “Não é ano de observarmos alta de preços, mas ela já está encomendada. Já abatemos fêmeas. É uma questão de esperar”, disse.
Fonte: Departamento de Comunicação do Siste
Foto: Departamento de Comunicação do Sistema FAEP